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O fundo
O fundo

Atletas que treinam em locais fechados como ginásios e pistas particulares não enfrentam tanto esse problema. Ou raramente encontram situações como essa. Às vezes pode ser divertido, outras vezes dá para agüentar, mas tem muitas vezes em que a coisa torra o saco.

Você está treinando e está fazendo um giro longo. Estabeleceu uma faixa de pulsação a qual não deve ultrapassar. Do nada sai um bando de "locais" e, pedalando suas ferruginosas com ar demente, ultrapassam e vão em frente até que o gás se acaba. Em geral disfarçam encostando em algum lugar, virando numa esquina qualquer, fingindo que estão arrumando algo na bike. Satisfeitos por terem dado um pau no profissional cheio de equipamento. Tranqüilo.

Você chega ao alto da descida e se prepara para despencar. Capacete, luva, alguma proteção adicional. Põe para baixo e de repente um cara passa por você numa engenhoca com duas rodas rangendo. Sem nada, talvez até sem camisa. Faz a curva à sua frente no limite total. Você reza para o desgraçado não se estabacar na sua frente. O cara consegue passar meio doidão e vai descendo. Vocês chegam ao final e o cara mal sabe falar, às vezes nem olha diretamente para você, curtindo a vitória.

Você está fazendo uma descida de reconhecimento ou treinando alguns trechos técnicos duma pista de DH. O mesmo "sombra-solta", um "local",  despenca e ultrapassa no risco total. A organização da prova nem está sabendo, a pista foi mesmo invadida. Mais à frente o cururu do cacete está na sua frente, exatamente no trecho que você está querendo melhorar. Pior ainda, imagine um bando deles. Um saco! Dá uns gritos, os caras se tocam, mas agora só o caminhão-resgate pode ajudar...

Esses adversários improvisados sempre estão por aí. Gente que não tem a menor idéia do que é ser um profissional. Não sabe o quando de trabalho e preparação está envolvido até que se possa soltar tudo numa competição real. São horas por semana de treinamento que envolve a parte de condicionamento físico, de desenvolvimento de habilidade, de progressivo aperfeiçoamento técnico. Um pista nunca é atacada com fúria pela primeira vez. Seria suicídio e seria pouco eficiente. Tem que descer várias vezes para ir pegando o jeito dela. Até que se possa descer arrepiando, soltando tudo, com fúria geral. Mas fúria controlada. E o controle só pode vir das longas horas de preparação e da experiência adquirida.

Então você vai ficando meio puto com os caras que não estão entendendo nada. Volta pra casa e de repente se pega rememorando toda a longa história de profissional. O início, quando você provavelmente era também um "sombra-solta", sempre disposto a enfrentar alguém na cara e na coragem. Ninguém conseguia te pegar, lembra? Pode ser que tinha um ou outro, mas você sempre estava lá confiante e desafiador, sabendo que tinha sido só um vacilo ou um problema na bike. Depois as primeiras provas e as primeiras decepções, que acabavam estimulando ainda mais o espírito competitivo.

Sempre aprendendo. Um dia, provavelmente, sem muitas vezes você perceber, você descobriu que tinha aprendido a aprender. Quer dizer, já não era mais um maluco desenfreado, mas estava ligado em tudo o que podia fazer para melhorar. O esporte começou a ficar complexo, cheio de coisas que tinham que ser enfrentadas uma a uma. Desde o treino físico, até a busca e a manutenção de patrocinadores. O seu momento máximo, o desempenho total, passou a ser apenas uma parte pequena da sua atividade esportiva. Parte da agressividade e do impulso foram sutilmente alimentar a perseverança e paciência necessárias para todas as atividades envolvidas numa carreira profissional.

Na próxima prova você chega confiante no trabalho desenvolvido. Conhece sua bike como ninguém e está no auge da capacidade física e técnica. Sua habilidade nunca esteve melhor. Na hora da prova, concentração total. Estratégia na cabeça. Logos dos patrocinadores espalhados por todo equipamento. A tensão cresce na largada. Concentração. A pulsação acelerada, a cabeça nervosa querendo pular sobre as cercas impostas por você mesmo como se fossem um gate de largada. Mal ouve o sinal e dispara aquela fúria controlada. Tudo está perfeito. O controle e a estratégia estão funcionando. Você voa e flui pela pista. Não tem pra ninguém. Você ainda está matando! No fundo, você está tendo aquele mesmo prazer indescritível. Aquele mesmo prazer que tinha quando era criança e desafiava a molecada do bairro. No fundo a gente não muda tanto.

Da próxima vez que um "sombra-solta" vier a se manifestar sob sua luz, não se irrite descontroladamente. Grite para o animal sair da frente, tudo bem, mas troque uma idéia se puder e nunca se esqueça que você não mudou tanto assim. Provavelmente o cara é apenas ignorante. Como você já foi um dia. Assim como você cresceu a partir da ajuda de tanta gente, dê uns toques para os ignaros, pois estará dando uma oportunidade a eles. Claro, tem os que são muito burros demais ou maus-caracteres demais. O bacana é que você pode se surpreender o quanto tem de gente que consegue melhorar. Nesse momento você estará dando mais uma virada na carreira. Você primeiro aprendeu a aprender. Agora está descobrindo que pode ensinar também.

Podemos escolher entre dar exemplo e orientar ou deixar que os que deviam estar fazendo outra coisa se matem e parem de encher o saco. Isso vai da cabeça da pessoa. Mas com certeza, em qualquer esporte, os melhores têm uma boa dose de preocupação com aqueles que tentam começar ou que testam suas habilidades. Essa é a atitude que tende a  amadurecer e engrandecer qualquer esporte. Podemos até ter uma visão meio messiânica: essa atitude terá conseqüências até no País, ajudando a reduzir a violência com exemplos e sinalizando às pessoas que elas têm apoio e que são respeitadas. Que se pode trocar idéias e competir ao mesmo tempo. Na moral. No fundo, no fundo, todos nós queremos brilhar.